Património dos Saberes
As gentes de Castro Marim, habituadas desde a antiguidade ao convívio com diferentes povos vindos do mediterrâneo, trocaram produtos e práticas, absorveram modos de estar e de fazer, saberes amadurecidos pelo tempo que chegaram até nós através dos artesãos, tesouros vivos detentores e transmissores da herança imaterial de Castro Marim, que conservam a memória de um povo e de uma cultura.

A memória das mãos que entrelaçam a baracinha de empreita, racham a cana colhida entre janeiro e fevereiro, tecem rendas de bilros, malham e moldam o ferro incandescente, constroem casas brancas de cal e telha, percorrem as ruas em procissão, dançam os Santos Populares, seguem os antigos ciclos agrícolas ou repetem no dia-a-dia lendas, provérbios e “dizeres” locais. Estas são algumas das tradições intemporais repetidas através de gerações, transmitidos oralmente entre a comunidade e assimilados com a prática, que urgem ser salvaguardadas e promovidas, como parte integrante do valioso Património Imaterial de Castro Marim.

A forte e secular tradição agrícola da região do Algarve e de Castro Marim, de matriz mediterrânica, adquire maior expressão nas hortas e hortejos espalhados pela serra, seguindo os principais cursos de água, nas várzeas e barrancos, onde a terra é mais fértil. Aí ainda encontramos hortas delimitadas por pequenos muros de pedra ou valados de pita, que as protegem de invasores. No espaço urbano, encontramos cultivos junto da periferia ou nos quintais das habitações.
No concelho de Castro Marim, a agricultura praticada é sobretudo de subsistência e proximidade, colhida para consumo doméstico, adaptando os saberes passados aos recursos tecnológicos do presente. As hortas e pomares, regadas a partir de poços e noras, ainda hoje utilizam algumas das estruturas antigas, adaptadas aos tempos atuais com modernos engenhos hidráulicos de elevação da água. As espécies hortícolas e frutícolas, cultivadas e colhidas na época própria, ainda obedecem ao calendário agrícola antigo, fruto dos contactos mantidos com as civilizações do mediterrâneo que, durante a antiguidade, colonizaram e partilharam conhecimentos com as gentes da região.

No concelho de Castro Marim, as artes e ofícios são ricas e variadas, denotando a grande criatividade dos seus artesãos. Ao longo dos anos, as gerações transmitiram e reproduziram os segredos da tradição, perpetuando, assim, a memória de um povo e de uma cultura.
Do património artesanal de Castro Marim fazem parte trabalhos de tecelagem, renda, cestaria, ou empreita. Alguns destes ofícios tradicionais, já quase esquecidos no tempo, teimam em sobreviver, resistindo ao comércio e à industrialização. Os visitantes ainda podem encontrar quem, à porta de sua casa, faz a minuciosa e delicada renda de bilros para decorar toalhas de mesa. Ainda é possível conhecer a cara dos homens que, com as sábias mãos, tecem cestos com palha e cana, folhas de junco e palmeira e observá-los no exercício do seu ofício. No verão podemos ver os salineiros que, debaixo do sol quente e inclemente, durante a estação mais quente do ano, cuja pele, crestada e curtida pela dureza do trabalho, extraem o sal e a flor de sal, seguindo o saber transmitido através de gerações, desde épocas esquecidos no tempo.
Artesanato mais representativo: cestaria, empreita e rendas de bilros.

É com a criação de gado e de Caprinos de Raça Algarvia que se sustentam várias famílias, passeando largos rebanhos pelas serras cobertas de pastagens e subtraindo desta criação o leite, o queijo e, em última instancia, a carne.
Esta raça caprina é característica do Algarve, tendo no concelho de Castro Marim uma grande expressão, merecendo, por isso, atenção quanto à preservação, reprodução e valorização dos seus produtos.
Foi assim que surgiu no concelho a ANCCRAL – Associação de Criadores de Caprinos da Raça Algarvia, criada em 1991, com o principal objetivo de representação e defesa dos associados no que se refere à criação, preservação e melhoramento dos caprinos de raça algarvia, contribuindo para o desenvolvimento da atividade e promoção da raça e dos seus produtos.
O Centro Multiusos do Azinhal é o grande espaço destinado à promoção da cabra e seus derivados, com a existência de uma queijaria e espaço exterior para mercado de cabras.
ANCCRAL – Associação Nacional de Criadores de Caprinos de Raça Algarvia
Morada: Rua Capitão Lino Vaz Palma, Azinhal
8950-029 Azinhal
Telefone: 281 495 232
Telemóvel: 925051390
E-mail: anccral@gmail.com
Localização: 37.284850, -7.467467
Mel e Frutos Secos

Do interior serrano chegam-nos os sabores do mel e dos frutos secos, presentes, sobretudo, na doçaria regional algarvia, centro da habitual convivialidade à mesa das gentes de Castro Marim, tão mediterrânica, seja no seio familiar, ou num convívio entre amigos.
O mel de Castro Marim é um produto local de referência, de raiz milenar, produzido artesanalmente e adaptado à modernização de materiais e processos. Durável e rico em minerais, é utilizado como adoçante natural há várias gerações, quando o açúcar era um bem acessível a poucos. A sua qualidade e sabor são incomparáveis e refletem a tipicidade da vegetação e do ecossistema, através do aroma a rosmaninho, flor de laranjeira, tomilho, flor de medronho e outras espécies florais características deste concelho.
Também os frutos secos, tais como a amêndoa, figo e alfarroba resultam da agricultura local e nomeadamente das culturas arbóreas do Algarve, introduzidas pelas civilizações mediterrânicas que durante a antiguidade colonizaram e comercializaram nos portos algarvios. Hoje, integram o mosaico de cariz mediterrânico da paisagem serrana do concelho, tão rico e variado.
Sal e Flor de Sal de Castro Marim
Neste recanto do sotavento algarvio, onde o rio Guadiana se encontra com o Oceano Atlântico, as salinas artesanais de Castro Marim, inseridas na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de santo António, estendem-se por mais de 300 hectares, numa teia de canais e espelhos de água salgada, aproveitando as excecionais condições naturais desta zona do Algarve.
Visitar as salinas tradicionais é uma excelente oportunidade para descobrir os saberes tradicionais utilizados durante séculos na extração do sal, numa simbiose perfeita entre o trabalho do homem e a vontade da natureza. A sabedoria do incansável salineiro, que conserva a arte e os instrumentos tradicionais, oferece-nos dois produtos de qualidade superior, perfeitamente enraizados na população castromarinense: o Sal e a Flor de Sal, ex-líbris de Castro Marim
O Sal de Castro Marim, cuidadosamente recolhido à mão segundo métodos tradicionais, resulta da conjugação harmoniosa das marés, do sol e do vento. Não é sujeito a nenhum tipo de tratamento posterior, apresentando-se naturalmente brando e brilhante, pelo que constitui um produto alimentar inteiramente natural.
O sal tradicional conserva todas as riquezas naturais do mar e do oceano ao cristalizar, de forma natural, sob ação do sol e do vento, enriquecendo os cristais de sal com elementos minerais, úteis e necessários à saúde.
A Flor de Sal forma-se à tona da água, como uma película de finos cristais de sal que se mantêm em suspensão recolhidos diariamente com o rodo coador, cuidadosamente, para não afundarem.
A Flor de Sal é indicada para usos culinários, no final da confeção dos alimentos ou em saladas. É um Ingrediente que ativa o sabor natural dos alimentos, ideal para grelhados de peixe, carne e caça.
A qualidade destes produtos tradicionais é reconhecida mundialmente pelo paladar rico e sublime que atribui aos alimentos e pelas vantagens que possuem em relação ao sal industrial.
Queijo de Cabra de Raça Algarvia
Associada à criação de cabras no concelho de Castro Marim, bem como em todo o Baixo Guadiana, está a produção de queijo.
Entre os pequenos criadores, a produção de queijo de cabra é, cada vez mais, reduzida, fazendo escassear este produto e levando-o à extinção. A produção semi-industrial é a única solução para rentabilizar atividade e escoar o leite dos vários produtores, tendo por isso sido criada a Queijaria Experimental do Centro Multiusos do Azinhal.
O objetivo desta queijaria, que fornece importantes pontos de venda ao nível local e regional, é preservar as técnicas tradicionais e os modos de fabrico, para fazer chegar ao consumidor um queijo de qualidade que possa ser uma referência, sendo já conhecido o “Queijo do Azinhal”. Trata-se de um queijo 100% de leite, 100% natural e 100% tradicional
O leite de cabra possui características nutricionais diferenciadas e superiores aos outros leites, ideal para quem se preocupa com a alimentação e com a saúde. É rico em vitaminas, fósforo, cálcio (40% mais do que o leite de vaca) e proteínas compostas por todos os aminoácidos essenciais. As gorduras são de alto valor biológico e maior digestibilidade o que torna o leite de cabra particularmente adequado para crianças e idosos bem como para a prevenção de osteoporose.
Além das qualidades mencionadas, o leite de cabra é também ele o mais acertado para pessoas com alergias ao leite de vaca, devido à grande quantidade das proteínas Alfa S1-Caseína e Beta lactoglobulina.
No fabrico de queijo, são utilizados somente produtos da região, sem qualquer adição de conservantes e corantes.
• O Leite, produzido por caprinicultores que praticam ainda um sistema de produção suportado nas pastagens naturais da região e na raça algarvia, espécie autóctone classificada como património genético nacional.
• O Sal Marinho de Castro Marim, recolhido inteiramente à mão, segundo técnicas ancestrais que perduram ao longo dos tempos, sem ser sujeito a nenhum tipo de tratamento posterior. Os seus cristais são ricos em elementos minerais, úteis e necessários à saúde.
• O Cardo, planta espontânea da região. Durante os meses de Junho e Julho são recolhidas as suas flores, que depois de secas são utilizadas como agente coagulante do leite.
O queijo é fabricado de modo tradicional, salvaguardando o sabor e o saber de séculos bem como os ingredientes tradicionais nunca esquecendo as mais rigorosas normas de higiene e segurança alimentar. É feito com o cardo cuja utilização remonta à época dos romanos, substituído, atualmente, na maioria dos queijos frescos, presentes no mercado, pelo coalho de origem animal.