Património Natural
O concelho de Castro Marim possui um vasto património natural, desde a serra ao litoral, entre paisagens protegidas, zonas balneares de excelente qualidade, ribeiras e albufeiras de água para consumo humano e com elevado potencial ambiental e ecológico, paisagens estas que dão suporte a espécies e habitats próprios e fazem deste território um destino privilegiado para o turismo da natureza, com especial enfoque para os percursos pedestres e a ornitologia e observação de aves.

Deste rico património natural existente no Concelho de Castro Marim, merecem destaque a área da reserva natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de santo António, as Barragens de Odeleite e Beliche, a Mata Nacional das Terras da Ordem e a faixa litoral constituída por areais extensos e sistemas dunares bem consolidados.
O Concelho de Castro Marim possui cerca de 16,0 % do seu território em área protegida e/ou classificada devido à importância dos valores naturais que aí se encontram, englobando uma grande diversidade de habitats, ricos em fauna e flora e outros recursos endógenos que merecem ser reconhecidos.
Desde a serra ao litoral, são várias as áreas classificadas de âmbito nacional e internacional, que merecem destaque, a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António (Área Protegida e Sítio RAMSAR), Sítio de Importância Comunitária (SIC) e Zona de Proteção Especial (ZPE) (áreas classificadas no âmbito da Rede NATURA 2000) e a Mata Nacional das terras da Ordem (Área Florestal).
No Concelho de Castro Marim existem duas grandes barragens, ambas localizadas na bacia hidrográfica do Rio Guadiana, a Barragem de Odeleite e a Barragem de Beliche.
As barragens de Odeleite e de Beliche fornecem a água do aproveitamento hidráulico Odeleite-Beliche, destinado ao abastecimento às populações e ao regadio dos concelhos do Sotavento Algarvio, podendo também em caso de necessidades hídricas, providenciar o abastecimento para consumo humano ao Barlavento Algarvio, através de estação elevatória reversível.

Este aproveitamento hidráulico serve uma população estimada em 800.000 habitantes, dos quais 250.000 correspondem à população residente e 550.000 à população flutuante, e a rega de 8600 ha de solos agrícolas. O túnel Odeleite-Beliche, com um comprimento total de aproximadamente 2950 m, garante a interligação e exploração conjunta das duas albufeiras cujo ponto de captação da água para tratamento e posterior consumo humano se situa na barragem de Beliche.
A barragem de Odeleite, construída em 1996 na ribeira de Odeleite, apresenta um comprimento de coroa de 350 metros, uma altura de 65 m e uma capacidade útil de 117.000.000 m3 de água, tendo dado origem a uma albufeira de águas públicas que constitui um dos mais importantes reservatório de água destinada à produção de água para consumo humano no Algarve. A albufeira de Odeleite dispõe de uma quantidade total de armazenamento de 130 hectómetros cúbicos e cerca de 680, 22 ha de superfície inundável, ao nível de pleno armazenamento (NPA de 52,0 m).
A albufeira de Odeleite possuí Plano de Ordenamento de Albufeira (POAO) aprovado pela (Resolução do Concelho de Ministros n.º 54/2014) incidindo o mesmo sobre o plano de água e respetiva zona terrestre de proteção da albufeira. O POAO estabelece o regime de salvaguarda de recursos e valores naturais e o regime de gestão a observar na sua área de intervenção, com vista à utilização sustentável do território e definindo como prioridade na utilização da água desta barragem, o abastecimento público.
De entre os vários objetivos do plano estiveram a definição de regras de utilização e de salvaguarda bem como identificação das áreas mais indicadas para a conservação da natureza e igualmente as mais aptas para atividades de recreio e lazer.
A barragem de Beliche foi construída em 1986 e localiza-se na Ribeira de Beliche, com uma área de 99 km2, apresenta um comprimento de coroa de 12 m de largura, uma altura de 54.30 m e um desenvolvimento de 527 m. A capacidade total da albufeira, ou seja o volume total de armazenamento é de 48 hm³ e a capacidade útil de 44 hm³, com cerca de 292 ha de superfície inundável ao nível de pleno armazenamento (NPA de 52 m) e nível mínimo de exploração (NmE) de 15,00 metros.
Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António (RNSCMVRSA)
A RNSCMVRSA, zona húmida de importância internacional foi a primeira reserva natural a ser criada em Portugal em 1975, pelo Dec. Lei n.º 162/75 de 27 de Março, sendo uma das mais importantes zonas húmidas do país. O grande objetivo de criação desta reserva foi a conservação da Natureza, assegurando o equilíbrio dos ecossistemas, a melhoria das condições de vida das populações residentes e valorizando as atividades tradicionais e a proteção do património paisagístico.
Esta área protegida localiza-se no sudeste algarvio, junto à foz do Rio Guadiana e abrange uma área de 2300,0 hectares, constituídos por sapais salgados, corpos de água salobra, salinas e esteiros que se estendem pelos Concelhos de Castro Marim e de Vila Real de Stº António, abrigando um elevado número de espécies faunísticas e florísticas.

O sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, percorrido por inúmeras linhas de água e em contacto direto com o rio Guadiana, atendendo à qualidade das suas águas e do seu substrato alimentar, alberga uma fauna ictiológica variada, sendo que, os seus esteiros da Lezíria e da Carrasqueira são importantes locais de reprodução de várias espécies de peixes funcionando como um viveiro natural. Para além de inúmeros bivalves, espécies idênticas às existentes na ria Formosa, a área serve também de habitat a crustáceos, como a boca e o camarão-de-monte-gordo.
Esta Zona húmida é igualmente reconhecida como local de passagem, invernada e nidificação de numerosas espécies de aves aquáticas, sendo uma das áreas de maior interesse ornitológico do nosso país, justificando o seu estatuto de zona húmida de importância internacional que lhe é conferido pela Convenção de Ramsar.
Para além da zona húmida que abrange aproximadamente 70% da superfície da área protegida, esta integra ainda zonas secas de uso agrícola e zonas de cota mais elevada que correspondem já às encostas da serra algarvia, com espécies animais e vegetais próprias.
É pois nesta variedade de biótopos existentes que reside a riqueza desta área protegida, tão atraente quanto sensível a qualquer intervenção humana mal conduzida.
Na Reserva Natural também se desenvolvem diversas atividades humanas relacionadas com a presença da água, sendo que atualmente, a salinicultura é a principal atividade económica desta zona húmida e o seu salgado local reputado pela qualidade do seu produto. A par da salinicultura, a Reserva Natural também possui atividades relacionadas com a pesca, piscicultura e agricultura, às quais se veio juntar desde a década de 60 o turismo, sendo atualmente o mais destacado fator de desenvolvimento da região.
Natural.pt
A Natural.pt trata-se de uma “Marca” da propriedade do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) que faz parte de uma estratégia de promoção valorização das áreas protegidas, sendo esta uma iniciativa que visa a promoção integrada do território, dos produtos e serviços existentes nas áreas protegidas e na sua envolvente próxima, e que com elas partilhem valores e princípios de sustentabilidade e valorização da natureza e dos recursos endógenos.
O Município de Castro Marim aderiu à “MARCA” desde o seu nascimento tendo estabelecido em março de 2015 “Acordo de Colaboração para Plataforma Local de Operacionalização e Gestão da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António”, acreditando que esta estratégia para além da divulgação do património natural do Município permitirá aos residentes e empreendedores locais obter vantagens por se encontrarem a operar numa área protegida inserindo-se numa rede de promoção e divulgação nacional e internacional, que lhes trará oportunidades de notoriedade e desenvolvimento.
No Concelho de Castro Marim encontram-se habilitadas a aderir à Marca todas as entidades públicas e privadas, que estejam devidamente licenciadas e que desenvolvam a sua atividade na área da Reserva Natural de Castro Marim e Vila Real de Santo António, de acordo com a tipologia de produtos e serviços identificados. O processo de formalização da adesão é efetuado através do sistema integrado de gestão da adesão disponível no portal Natural.P.T.
O Sítio Ria Formosa/Castro Marim está integrado na Rede Natura 2000, rede ecológica europeia que tem por objetivo assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e flora no território da União Europeia.
O Sítio Ria Formosa/Castro Marim estende-se desde o Concelho de Loulé ao de Vila Real de Santo António com uma área de 17520 ha. O sítio engloba o sapal de Castro Marim, a zona da mata litoral de Vila Real de Santo António e a ria formosa, a qual, pela sua diversidade, complexidade estrutural e dimensão é a mais importante área húmida do sul do país.

No sítio é notável a longa faixa de ilhas-barreira, com bancos de areia permanentemente submersos e habitats dunares razoavelmente bem conservados, que asseguram a proteção de uma ria onde desaguam alguns cursos de água e se encontra uma vasta área de habitats salgados sujeitos à influência das marés. Aqui incluem-se lagoas salgadas ou salobras e salinas exploradas de forma extensiva, lodaçais e areais a descoberto na maré baixa e sapais onde domina a vegetação halófita.
No cordão dunar é possível observar todo um cortejo de habitats dunares. Também o elenco florístico do Sítio é de excecional valor, ocorrendo aqui as únicas populações nacionais do briófito Riella helicophylla e da Arméria velutina.
A ZPE dos Sapais de Castro Marim está integrada na Rede Natura 2000, uma rede ecológica europeia constituída por Zonas de Proteção Especial, na Diretiva Aves (79/409/CEE, de 2 de Abril 1979), que visa a conservação de aves e dos seus habitats, e por Zonas Especiais de Conservação (ZECs), na Diretiva Habitats (92/43/CEE, 21 Maio 1992), que visa a conservação dos habitats naturais, fauna e flora, listados na respetiva diretiva.
Trata-se de uma área protegida como ZPE (Zona de Proteção Especial), com uma área de 2147,0 ha situados maioritariamente no território do Município de Castro Marim, coincidentes em 86 % com a RNSCMVRSA.

A maior parte das áreas incluídas na ZPE são zonas húmidas, nas quais predominam os sapais salgados, as salinas e, na baixa-mar, as áreas de sedimentos expostos na margem direita da foz do rio Guadiana. Toda esta área é dominada por vegetação halófita e está sujeita à influência das marés. As zonas húmidas englobam também charcos e lagoas de água doce ou salobra, naturais e artificiais, na sua maioria de carácter temporário.
As restantes áreas incluídas na ZPE são ocupadas essencialmente por terrenos agrícolas com plantações diversas. A zona húmida é a unidade ecológica onde ocorre um maior n.º de espécies, predominando limícolas, patos e galeirões, assumindo esta unidade uma importância especial durante as migrações pós-nupciais (agosto e setembro), quando a diversidade e abundância de aves aquáticas são maiores. No inverno, esta zona húmida também alberga uma proporção elevada de algumas espécies que invernam em Portugal e na primavera nidificam na ZPE um grande número de aves aquáticas.
No território da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António dois terços são constituídos por planície aluvial de sapais, salinas e esteiros e o terço restante por colinas.
As salinas ocupam cerca de 30% da área da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim, coexistindo a exploração artesanal, de pequenos talhos onde o sal é recolhido manualmente, com a exploração industrial, de grandes dimensões, onde o braço do homem foi substituído pelas máquinas. Ambas constituem habitats fundamentais para as aves aquáticas, sendo utilizadas como local de repouso, alimentação e nidificação.

No sapal e nos muros das salinas cresce uma vegetação arbustiva adaptada ao elevado teor salino do solo, espécies halófitas, dominando diversas espécies entre as quais se destaca a salicórnia ramosíssima, planta comestível e já muito utilizada como substituto do sal em saladas e salteada sendo também utilizada noutros pratos.
Relativamente à Avifauna, refere-se que grande parte das aves aquáticas que ocorrem na Reserva Natural se concentram nas salinas, onde beneficiam de vastas áreas de alimentação.
No período de Inverno e de migração pós-nupcial, podemos encontrar nestas áreas uma grande abundância e diversidade de espécies de patos, garças, cegonhas, colhereiros e limícolas, sendo estas últimas o grupo dominante.
No final da Primavera e início do Verão, a abundância de aves nas salinas diminui significativamente, no entanto estas servem também de albergue para populações de espécies que dependem quase exclusivamente deste habitat para nidificar. É o caso da Andorinhas-do-mar-anã e de limícolas como o Perna-longa, o Borrelho-de-coleira-interrompida e o Alfaiate, sendo esta uma espécie de estatuto Vulnerável que tem nas salinas do sudeste algarvio o único núcleo reprodutor regular a nível nacional.
Salinas tradicionais
O Sal Marinho tradicional de Castro Marim é inteiramente recolhido à mão, segundo técnicas ancestrais que perduraram ao longo dos tempos. Resulta da conjugação do trabalho do salineiro com a ação das marés, do sol e dos ventos, e não é sujeito a nenhum tipo de tratamento posterior, apresentando-se naturalmente branco e brilhante.
Este sal totalmente natural conserva a riqueza mineral da água do mar, encontrando-se na sua composição química não apenas cloreto de sódio, mas um vasto conjunto de minerais úteis e necessários à saúde, tais como magnésio, cálcio, potássio, ferro, zinco ou manganês.
A Flor de Sal é uma finíssima película de cristais de sal que se forma na superfície da água das salinas, e que é cuidadosamente recolhida com um instrumento especial, que nunca toca o fundo. Este produto não sofre qualquer processamento, seca ao sol e é depois embalada, mantendo o sabor e a humidade do mar. É um tipo de sal raro, que se forma unicamente nos dias de maior calor, entre Julho e Setembro.
Nas salinas tradicionais, a água percorre um labirinto de tanques compartimentados, os viveiros ou tejos – desde o esteiro de abastecimento até aos talhos, aquecendo e evaporando progressivamente ao longo do trajeto, atingindo o máximo de saturação nos talhos, geometricamente dispostos, onde se forma o sal.
A temporada do sal segue o ritmo das estações. Inicia-se geralmente em Março e prolonga-se até Setembro, altura da última colheita do sal. A temporada é dividida em duas grandes fases: a preparação das marinhas e a produção de sal.
A preparação das marinhas decorre entre os meses de Março a Junho e engloba a limpeza de lodo e lamas, a reparação dos desgastes provocados pelas intempéries do Inverno e a preparação das águas. A preparação das águas consiste no processo de aumentar a concentração salina das mesmas.
A Mata Nacional das Terras da Ordem situa-se no Nordeste do Concelho de Castro Marim, na freguesia de Odeleite e distinguem-se quer pela sua localização quer pelas suas características, apresentando uma variedade de flora e fauna, constituindo o habitat perfeito para inúmeras espécies animais e vegetais. Localizada na vertente oriental da Serra do Caldeirão e com uma área correspondente a 1297,43 ha, a mata das Terras da Ordem foram objeto de implementação de projetos florestais a partir dos anos 70 do século passado.
Floresta inicialmente dominada por azinheiras, alfarrobeiras e oliveiras, com predominância atual de pinheiro-manso e maior diversidade da vegetação na proximidade dos cursos de água, onde se incluem loendros, eucaliptos, freixos e zambujeiros.

Pela Portaria nº 849/ 2002 de 13 de Julho, 820,2 hectares passaram a ser classificados como Área de Refúgio CMR-1, destinada ao fomento da fauna cinegética migradora.
O nome desta área florestal, indicia um passado religioso associado à Ordem de Cristo, altura em que pertencia à Comenda da Alcaidaria Mór de Castro Marim. Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, passaram para o domínio da Fazenda Nacional. Em 1844 foram adquiridas por um particular, não tendo sido reconhecida a posse legal destas Terras. E durante mais de um século as Terras estiveram ao abandono, em total estado de erosão e de pobreza dos solos.
No ano de 1967 o Estado adquiriu a propriedade, a qual nesse ano foi formalmente submetida a regime florestal total, passando a constituir a Mata Nacional das Terras da Ordem. Desde então e até à data fica sob administração/gestão direta do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Com a revolução de Abril de 1974 interrompem-se os trabalhos de gestão deste espaço, assistindo-se a uma nova intervenção a partir de 1982, que visam não só o ordenamento cinegético como o coberto arbóreo.
Possui vegetação com características marcadamente mediterrâneas sendo que atualmente, o pinheiro-manso constitui a espécie predominante nesta Mata, no entanto é possível encontrar povoamentos novos de sobreiro, pinheiro-do-alepo, cipreste, azinheira e outras folhosas, especialmente junto às linhas de água, que contribuem para a diversificação e valorização de toda a zona florestal.
A presença do homem nesta zona ribeirinha é bem notada, pela ocupação das terras férteis da margem da ribeira com pequenas hortas, pomares (sobretudo de sequeiro) e também pelo aproveitamento dos recursos hídricos através de poços e moinhos de água, de que são exemplos o moinho de água das Pernadas, recentemente recuperado, e o moinho de água do Carvão.
Pela sua beleza e tranquilidade, este espaço proporcionam ao seu visitante um ambiente bastante agradável para a prática de desporto ao ar livre e outras atividades relacionadas com a natureza.
Nos últimos anos foi objeto ainda de ações de arborização e beneficiação florestal, prevenção de fogos, experimentação florestal e ensaios de utilização múltipla, fomento cinegético e instalação de prados permanentes para silvopastorícia.